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O silêncio da comunidade internacional - e, em particular, de Portugal - perante a grave instabilidade política e militar atualmente vivida na Guiné-Bissau é, no mínimo, inquietante. A ausência de uma posição firme contrasta com a gravidade dos acontecimentos e com a longa história de vulnerabilidade institucional do país.
A situação que hoje se vive não surgiu do nada. O processo eleitoral, desde o início, foi marcado por irregularidades, tensões e decisões controversas, como a rejeição da candidatura de Domingos Simões Pereira pelo Supremo Tribunal de Justiça, assim como de outras candidaturas e coligações da oposição, nomeadamente PAIGC / Terra Ranka e diversos atores políticos relevantes. Apesar destes obstáculos, o PAIGC apoiou o candidato independente Fernando Dias, cuja vitória parece ter sido clara aos olhos de observadores atentos ao contexto político, social e militar do país.
Perante estes factos, a pergunta que se impõe é simples: quem realmente beneficia de um alegado golpe de Estado? A resposta parece igualmente evidente - apenas o regime que controla, com forte pendor militar, as estruturas essenciais do Estado.
A Guiné-Bissau conhece demasiado bem este padrão. Desde a independência, o país tem sido marcado por sucessivos episódios de instabilidade militar: o golpe de 1980, que derrubou o governo de Luís Cabral; a guerra civil de 1998–1999, desencadeada por conflitos no seio das Forças Armadas; os golpes e tentativas de golpe em 2003, 2010 e 2012, cada um deles justificando-se com “salvação nacional”, mas acabando por fragilizar ainda mais o Estado, a economia e a confiança do povo.
Hoje, tal como em todos esses momentos, parece repetir-se uma narrativa perigosa, em que a democracia é colocada em pausa e o futuro do país fica à mercê das armas.
O que verdadeiramente espanta e revolta é a passividade dos parceiros internacionais, sobretudo daqueles que se afirmam defensores da democracia e do Estado de direito. Portugal, país com laços históricos, culturais e políticos profundos com a Guiné-Bissau, limitou-se a uma reação vaga, tímida, insuficiente e distante, incapaz de reconhecer a gravidade da situação ou de condenar de forma clara os atropelos ao processo democrático. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Europeia mantiveram-se igualmente discretas, apesar de, no passado, terem sido bastante interventivas em crises semelhantes.
O povo guineense espera e merece mais. Espera que os parceiros internacionais assumam uma posição inequívoca, condenando qualquer manipulação do processo eleitoral e qualquer tentativa de legitimar um golpe fabricado para manter o país refém de interesses particulares. A detenção de figuras de grande relevância política e social, como Fernando Dias e Domingos Simões Pereira, não pode ser tratada como um detalhe diplomático. É um sinal de alarme.
Hoje, muitos guineenses sentem que são Fernando Dias e Domingos Simões Pereira. Amanhã, poderão ser outros. A Guiné-Bissau não pode continuar a ser adiada. O país precisa de democracia, transparência e respeito pela vontade popular, não de mais silêncio.
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