Hariana Verás: a angolana que ocupa espaço nos centros de poder dos EUA

July 2, 2025
 Hariana Verás EUA
Fotografia de @mademoiselle_luissandra

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Com uma firmeza que se impõe sem levantar a voz, Hariana Verás Victória atravessa os corredores do poder norte-americano com a autoridade de quem sabe que está a fazer história. Aos 40 anos, esta jornalista nascida em Malanje, Angola, é a única africana creditada na Casa Branca e uma das raríssimas a ter acesso direto às três principais instituições políticas dos Estados Unidos: a Casa Branca, o Pentágono e o Capitólio.


Filha do jornalismo angolano, Hariana começou a sua carreira aos 18 anos, com passagens pelo Folha 8 e Angolense, antes de se aventurar na televisão, na Orion. Em 2007, o destino levou-a para Washington D.C., onde foi assessora de imprensa da Embaixada de Angola durante quase uma década. Em 2018, o seu percurso deu uma volta decisiva: tornou-se correspondente da Televisão Pública de Angola (TPA) nos EUA e, no ano seguinte, conquistou o cobiçado "Hard Pass" da Casa Branca, uma credencial que poucos jornalistas estrangeiros detêm.


Desde então, Hariana tornou-se presença constante nas conferências de imprensa mais sensíveis e estratégicas da política externa dos EUA. Além da Casa Branca, está credenciada junto do Departamento de Estado, do Senado, da ONU, do FMI e do Banco Mundial, lugares onde África é muitas vezes falada, mas raramente com uma voz africana a representar o continente.


No dia 27 de junho de 2025, Hariana marcou presença num dos momentos mais simbólicos da diplomacia recente: a assinatura do Washington Accord, um acordo de paz mediado pelos EUA entre a República Democrática do Congo e o Ruanda. Foi a única jornalista africana convidada a colocar perguntas em direto na Sala Oval, convocada pela Secretária de Imprensa Karoline Leavitt.


Durante a conferência, Hariana partilhou a sua visão do terreno: “Vi esperança… eles têm agora esperança por um dia melhor no Congo”, relatou. Mencionou ainda que o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, ponderava nomear Donald Trump para o Prémio Nobel da Paz. Trump, visivelmente satisfeito, respondeu com um elogio que se tornou viral: “Você é linda, e linda por dentro. Gostava que houvesse aqui mais repórteres como você.”


Um elogio envenenado?


O comentário de Trump foi amplamente criticado por especialistas e defensores da liberdade de imprensa, que o classificaram como misógino e paternalista. Num contexto diplomático solene, a tentativa de desviar o foco da intervenção de Hariana para a sua aparência reforçou estereótipos de género. A reação global colocou o episódio sob o escrutínio mediático, revelando o desconforto que ainda existe quando mulheres, especialmente negras, ocupam lugares de protagonismo.


A própria Hariana optou por não alimentar a polémica mas o momento serviu de lembrete: ainda há muito caminho a percorrer para que a presença de uma mulher negra no centro do poder seja recebida com a normalidade que merece.


Mais do que uma jornalista de palco, Hariana é uma ativista convicta pelos direitos da classe. Tem defendido leis de proteção aos jornalistas, tanto em Angola como fora, e insiste que a liberdade de imprensa não pode ser apenas retórica. 

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