“Assalto” é só o começo: Hiranmay AG chega com foco, presença e mensagem

June 16, 2025

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Hiranmay AG tem 25 anos e um percurso marcado por deslocações constantes entre Angola e Portugal. Viveu no Porto, em Lisboa e noutras cidades, entre mudanças de casa, rotina e contextos. No meio dessa dinâmica a música foi o que permaneceu, tornando-se apoio e espaço de expressão. “Tive isso praticamente a minha vida toda”, diz. No meio de mudanças forçadas, foi na arte que encontrou o eixo que lhe permitiu manter a estabilidade quando tudo à volta parecia provisório.


Antes de se dedicar por completo ao canto e à composição, teve uma breve passagem pelo desporto, mas assume que não se via nos jogos nem nas competições. “Eu não sou muito fã de desporto. Não sou daquelas pessoas que se sentam para ver futebol. Nem para ver ténis, que era o que eu praticava na altura. A cena que eu gostava mesmo era estar no Afro Music Channel, no MTV Base… Saber quem lançou, quem fez o último lançamento, quem está trending. Como é que está o Chris Brown, a Rihanna, o Trey Songz… como é que está o Anselmo Ralph”, explicou.


O interesse genuíno pelo mercado musical e pelas suas dinâmicas acabou por influenciar e moldar a sua sonoridade. Do rap às melodias, do afrobeat ao R&B, Hiranmay vê a complementaridade entre géneros como algo que acrescenta valor ao resultado final e àquela que é a sua prática enquanto artista. “Eu comecei como rapper, mas sempre pensei muito além de rap. Gosto de rimas, gosto de freestyle, mas também gosto muito de melodia. E automaticamente, quando tinha acesso a uma nova sonoridade, queria cantar assim também. Queria fazer assim também. Queria lançar um zoukzinho, queria fazer afrobeat. Basicamente foi isso. Isso contribuiu muito para o que sou hoje.”

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A primeira música que gravou foi em casa, com um microfone que era da irmã. O resultado não o convenceu, mas os comentários positivos de quem o ouviu fizeram-no reconsiderar e perceber que, talvez, estivesse a ser demasiado exigente consigo mesmo, característica que acabou por se tornar uma constante no seu processo criativo. Admite que cada música tem que fazer sentido do início ao fim e que não lança nada cujo resultado seja diferente do que tinha imaginado. Não esconde que essa exigência torna o processo mais demorado, mas tem consciência de que esse é o preço a pagar por se cobrar em demasia. “Tu estás a criar uma rima, um verso, mas automaticamente já estás a criar imagens na cabeça. Eu começo logo a ver o videoclip. Depois mostras à equipa, recebes feedback, e tens de filtrar tudo. E quando já és exigente contigo mesmo, ainda mais complicado fica com o mundo à volta a pressionar. É muito difícil chegar à decisão de lançar. Eu tenho um milhão de músicas guardadas”, conta.


A temporada em Portugal permitiu-lhe o traquejo e experiência necessários para tentar outros rumos. Com um percurso e audiência construídos fora, Hiranmay decidiu regressar a Angola, onde encontrou uma realidade diferente da que deixou. “Fui para o mercado angolano como Hiranmay, mas lá conheciam-me como Young A.G. E pensei: ‘Eu sou bom, tenho talento’. Mas infelizmente, talento igual a talento é zero”, explica numa alusão a um mercado que considera “agressivo” o suficiente para por em causa o próprio valor. “Encontrei vários Hiranmay. Vários A.G's. Houve uma fase em que eu era mais fã de outras pessoas do que de mim próprio. Fiquei dois anos sem lançar”.

 Hiranmay AG entrevista

Wilds Gomes/BANTUMEN

"Gosto de estar no estúdio. Às vezes nem é para gravar. É para aprender"

Hiranmay

Apesar dos contratempos, não desistiu e, depois de um período difícil de adaptação ao mercado angolano, Hiranmay decidiu ir com tudo e explorar novas possibilidades. Ouvia, observava, experimentava. No meio desse processo de descoberta, nasceu o EP, King Baller. A estudar quando lançou o projeto, viu e sentiu os efeitos do trabalho quando, de repente, toda a escola sabia quem ele era. Embora houvesse outros artistas por lá, assume que ficou surpreendido quando começaram a reconhecê-lo nos corredores. “É ele, é ele”, ouviu de um grupo de rapazes, antes de o abordarem. Tinham ouvido o EP e não pouparam elogios. Foi aí que sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que estava mesmo no caminho certo.


O hit "Vai Embora", cimentou o nome e ajudou a alavancar o percurso. Tempos depois criou a Starzone, onde é artista, produtor e mentor. “Gosto de estar no estúdio. Às vezes nem é para gravar. É para aprender. Tenho uma regra: sempre que entro num estúdio, tenho de sair de lá a saber alguma coisa nova.” Com o selo, AG lançou temas como “Fresh &Cash” e “Provas”. À parte dos lançamentos em nome próprio, ajudou a trazer para a cena musical nomes como Kendra Ramos e Nélio Puma.


O seu mais recente single, "Assalto" nasceu de uma brincadeira com o irmão, mas é tudo menos leve. “Gosto de fazer músicas que não precisam do meu nome. Que tocam nas pessoas mesmo que não saibam quem sou. Por isso é que eu digo sempre: Talent over Fame. Às vezes dizem que talento é igual a zero, sim, é preciso trabalhar mais. Mas quando sabes que o teu talento vale muito, abraça-o. Investe.” O tema, que conta com uma sonoridade que atravessa o r&b melódico e o trap, é, acima de tudo, uma afirmação de identidade, ancorada numa produção cuidadosamente construída para destacar a voz do artista, que surge com presença e convicção, sem rodeios.


Inspirado pela filosofia “talent over fame”, Hiranmay AG quis lançar uma faixa que falasse por si, que tocasse nas pessoas antes mesmo de elas saberem o seu nome. Avesso à narrativa da fama fácil, o artista admite que a música é sobre talento que se impõe por mérito, funcionando como um cartão de visita, pensado para ser reconhecido pela sua força, independentemente de quem a assina.


“Assalto” é o primeiro avanço do projeto NORN – Now or Never – e deixa claro que este é apenas o começo de uma caminhada com ambição e direção. O trabalho será composto por seis faixas inéditas, a que se junta uma bonus track, e marca uma nova fase artística para o músico. A faixa Animals traz essa maturidade aliada a uma mensagem sobre julgamento, preconceito e o peso de ser diferente. 


“Olham para ti como se fosses um bicho. Mas eu sigo em frente. O meu foco é caminhar”, afirma, acrescentando que se vê como um sonhador, alguém “cheio de vontade de mostrar ao mundo quem é” e que acredita na música enquanto ferramenta de cura e conexão de culturas. 

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