Kady no Pé na Terra, entre novas frequências e a renovação de um ciclo musical

August 21, 2025
Kady Pé na Terra
Kady fotografada por @joannacorreia

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A menos de um mês do Festival Pé na Terra, a acontecer de 12 a 14 de setembro, em Almancil, Loulé (Portugal), trocamos dois dedos de conversa com a artista Kady, nome que faz parte do cartaz deste festival.


Pé na Terra é um festival que tem como objetivo celebrar a música, a dança e também a ligação à terra de uma forma muito orgânica. Após 12 anos na vila da Fuseta, agora em Almancil, o evento promete trazer para a sua 13ª edição, a mesma energia, o mesmo conceito e a mesma essência de sempre, com um cartaz recheado de grandes nomes lusófonos.


Kady vai pisar pela primeira vez o palco deste festival, e em conversa com a BANTUMEN, a artista não esconde o seu entusiasmo e curiosidade pelo público que a espera e que possa encontrar.  "Estou na verdade muito curiosa, porque nunca estive nesse festival. Acho que vou gostar muito. Tenho a impressão que é daqueles festivais em que vou querer ir só para ver, só para assistir, e acho que faz muito sentido com o que sou. Sou muito ligada à terra e isso reflete-se na minha música. Quero convidar as pessoas a irem: se não me conhecem, vão-me conhecer lá", disse-nos.


Para a artista cabo-verdiana, esta estreia representa muito mais do que um simples concerto. Está a preparar um espetáculo inédito, com uma nova banda - que inclui alguns dos músicos com quem já trabalhava -, pensado para ser especial e carregado de significado.

Kady acrescentou ainda que espera "que corra tudo bem, que as pessoas se divirtam e saiam de lá mais leves, porque o mundo está pesado. E quero elevar mesmo a energia das pessoas. Eu tenho estudado muito sobre frequências e descobri que a música é frequência e há músicas que trazem frequências muito baixas. Infelizmente, hoje em dia, o que está a ser mais tocado no mundo inteiro são músicas com frequências muito baixas. E isso influencia muito no comportamento das pessoas, na ansiedade, na depressão, e está tudo ligado com esse peso que estamos a sentir no mundo. Temos que fazer a nossa parte, porque, senão, vamos para um buraco muito fundo. O mundo está pesado, mas há muita gente a trabalhar para o bem, temos que acreditar nisso".


Falando de frequências e talvez de simbolismos, Kady foi recentemente convidada para estar presente na celebração dos 50 anos da independência de Cabo Verde, em Paris. Que confessou ter sido um  momento muito simbólico, fora do país, mas, ao mesmo tempo, rodeada pela comunidade cabo-verdiana na diáspora.


"Olha, foi lindo e edificante. Enriquecedor, porque eu nunca tinha tido contato assim tão de perto com a comunidade de Paris, no sentido de receber abraços e tirar fotos e essas coisas. Então, foi muito especial porque eu tinha ido a Paris, pela primeira vez, com a minha avó, Amélia Araújo, que foi combatente da libertação da luta de Cabo Verde. Então teve esse lado também mais sentimental e foi lindo, foi um concerto muito bonito. O público estava lá, não só o cabo-verdiano, sendo em Paris, havia franceses e turistas, todos estavam lá. Acho que foi passada a mensagem de que a luta continua. Nós somos um país livre, mas ainda temos muita liberdade mental para conquistar. Então foi incrível, adorei".


No convite, Kady viu mais do que uma oportunidade artística. O facto de ter sido Dino D’Santiago a chamá-la para o palco representou para si um sinal de confiança e reconhecimento. O momento serviu-lhe também de estímulo. Apesar de a sua música não seguir as fórmulas mais comerciais, a artista sente que esse tipo de convite valida a mensagem que transmite. Para Kady, o reconhecimento vem acompanhado de motivação para continuar a criar de forma fiel ao seu percurso, mesmo fora dos padrões mais mainstream.


Kady fotografada por @joannacorreia


Recentemente a artista cabo-verdiana lançou também "Emorio", um single que convida à reconexão com a essência individual e emocional. Com o título inspirado na língua iorubá, onde emorio significa “eu vejo-te”, a canção apresenta-se como um exercício de auto aceitação num contexto marcado pela aceleração do quotidiano.


A génese da música nasceu de uma proposta de Mark Delman, durante uma sessão de estúdio que juntou também Alberto Koning, Gerson Marta, Jorge e Vicky. A ideia inicial partiu de uma relação amorosa, onde alguém tenta revelar a outra pessoa o potencial que ela própria não consegue ver. No processo de escrita, Kady e Alberto, que são amigos de infância e partilham memórias, acabaram por direcionar a letra para rostos e histórias próximas, como se estivessem a dialogar diretamente com essas pessoas.


A canção apresenta duas leituras: pode ser dedicada a alguém em particular ou entendida como um exercício de autodescoberta. A artista descreve-a como um despertar que ultrapassa a introspeção, incentivando ao movimento e à coragem de assumir a própria essência e perseguir os sonhos. Durante uma estadia na Bahia, foi convidada pela cantora Nara Couto para interpretar uma canção, mas a escolha de última hora por "Emorio", de Gilberto Gil, trouxe-lhe insegurança. Optou então por sugerir cantar a música que já tinha preparado.

“Disse-lhe ‘Nara, vamos cantar a música que eu já tinha aprendido, é melhor, para não haver falhas’. Então ela disse que era okay. Só que Emorio, aquela palavra, ficou-me na cabeça. E no dia que fomos fazer a música, a minha, criámos lá as melodias e veio a palavra Emorio, que fazia todo o sentido no contexto da música, e ficou".

Nos últimos meses, Kady tem passado grande parte do tempo em estúdio, a gravar e a selecionar cuidadosamente as músicas que irão ver a luz do dia. A artista nunca se prendeu a rótulos ou estilos fixos e, por isso, o desafio atual é decidir entre várias sonoridades diferentes. Ainda assim, reconhece que a experiência de criar "Emorio" deixou-lhe uma marca especial, desde a batida até à colaboração com o produtor Aladdin, e admite que pretende explorar mais esse registo.


Quanto ao futuro, a ideia de um álbum ganha força. O primeiro, Kaminhu, lançado em 2015, fechou um ciclo de dez anos e agora Kady sente necessidade de abrir um novo capítulo. O tempo que passou sem lançar um projeto longo não se traduz em estagnação, mas em amadurecimento. Hoje, não se revê na mesma artista que apresentou o seu disco de estreia, ainda que mantenha a essência. "Sinto necessidade de renovar porque já não sou a mesma pessoa, graças a Deus, senão não tinha evoluído. Continuo com a mesma essência, mas já não sou a mesma Kady de há 10 anos. Sinto necessidade de renovar e de fazer o que eu sentir que condiz com o que sou agora, o que me vem na alma. Hoje já falo de outros temas, posso até falar de temas como no Kaminho, mas já vejo de outra forma. Já tenho dois filhos, já andámos muito tempo. Então, já vejo o mundo de outra forma, felizmente com muita positividade ainda. Isso não sai de mim. Mas sinto uma necessidade de renovar e acho que, com as músicas que tenho criado, estou a fazer isso", concluiu.


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