Africanidade como identidade e não como tendência, a proposta conceptual da KEMWER

Serafim Gomes, conhecido como Samba, inscreve o seu trabalho criativo numa relação consciente com a identidade, a memória e a responsabilidade histórica que delas decorre. De origem guineense, encontrou na moda um território de afirmação cultural onde a africanidade é assumida como estrutura de pensamento, matriz estética e posição política.

O seu percurso distingue-se pela recusa da pressa e pela valorização do processo. Samba observa, escuta e constrói com intenção, baseado numa abordagem que privilegia consistência e visão a longo prazo. Essa postura traduz-se numa compreensão da moda enquanto prática cultural informada, distante da lógica do consumo rápido e da superficialidade estética. Nos seus projetos, o conhecimento é instrumento de autonomia e de libertação, e reflete-se na forma como articula referências, símbolos e escolhas formais.

A africanidade, no universo que constrói, surge como presença ativa, incorporada no corpo e na forma de ocupar espaço. Vestir africanidade implica reconhecer uma herança que antecede o presente, mas que se projeta nele, sem submissão ao passado nem diluição no presente. Trata-se de assumir a história como fundamento e não como peso.

É neste enquadramento que nasce a KEMWER, fundada em 2022. A marca afirma-se como um projeto identitário orientado para a valorização da cultura africana no contexto da moda contemporânea e, fugindo à lógica circunstancial, apresenta-se como uma construção narrativa coerente, onde tradição e modernidade se articulam de forma consciente, sem concessões fáceis ao mercado.

Cada peça é pensada como parte de um discurso visual estruturado, onde o vestir assume uma dimensão cultural e política. A moda surge aqui como linguagem e tomada de posição, afastada da lógica decorativa ou do exotismo esvaziado de sentido. As referências ao Pan-Africanismo atravessam o projeto de forma assumida e consequente. Figuras como Marcus Garvey, Amílcar Cabral, Cheikh Anta Diop e Nelson Mandela surgem como pilares ideológicos e referências de pensamento, resistência e construção de consciência coletiva, que informam o posicionamento da marca e a sua leitura do mundo.