Kissanje, o restaurante que desafia Luanda a olhar para dentro

November 25, 2025

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Na Rua Amílcar Cabral, na Maianga, em Luanda, há um novo ponto de encontro que está a dar que falar. Chama-se Kissanje e é mais do que um restaurante. É a visão de Cláudio Silva, empreendedor angolano que regressou dos Estados Unidos para apostar na ideia simples, mas ambiciosa de mostrar que a alta gastronomia africana pode nascer e crescer com ingredientes totalmente nacionais.

Inaugurado em 2025, o espaço torna real um sonho antigo da família e a determinação de Silva em valorizar o produto angolano. Num panorama gastronómico onde a restauração de luxo tende a importar chefs, receitas e referências, o Kissanje segue na direção oposta. Aqui, não há pratos portugueses nem menus internacionais. O que chega à mesa é Angola no seu estado mais puro.

A história de Cláudio Silva passa pelos subúrbios de Washington D.C., onde cresceu depois de deixar Luanda em criança. Formou-se em Gestão de Empresas em Boston, viveu em Nova Iorque e, aos 23 anos, decidiu voltar. A relação com Angola, descreve, era mais emocional do que lógica. “Nada se comparava a aterrar no Quatro de Fevereiro e sentir o bafo quente que te diz que estás em casa”, recorda na entrevista que serve de base a este artigo.

Apesar das críticas ao cenário político angolano, Silva separa a insatisfação institucional do sentimento de pertença. O orgulho de ser angolano, garante, nunca esteve em causa. É esse orgulho que guia os projetos que foi criando.

Quando voltou, deparou-se com uma ausência evidente: faltava informação credível sobre restauração e turismo. Em resposta, criou, com sócios, o Luanda Night Life (LNL), hoje uma das principais referências angolanas nestas áreas. O portal organiza iniciativas como a Angola Restaurant Week e a Luanda Cocktail Week, dinamizando o setor e promovendo os players locais.

A máxima que orienta o seu percurso assenta no princípio: se não existe, cria-se. O Kissanje nasce exatamente dessa teimosia produtiva. É a continuação de uma trajetória ligada à música, à gastronomia e ao turismo, sempre com foco na modernização e na valorização cultural do país.

O restaurante funciona numa casa da família, agora renovada para receber quem quer provar Angola pela mão do Chef Afonso Videira. O nome remete à memória e à identidade. A ementa assume um compromisso absoluto com a produção nacional: polvo de Benguela, lacticínios do Lubango, carne do Kwanza Norte, frutas e bebidas tradicionais. Até a carta de cocktails segue esta linha, com maruvo, kissângua e outras referências locais. O objetivo é colocar Angola no mapa das gastronomias de referência do continente, apostando exclusivamente no que o país produz.

Para Cláudio Silva, trabalhar com produtos angolanos é uma forma de combater a falta de conhecimento sobre o país e de afirmar a sua riqueza cultural. O Kissanje, diz, pode vir a ser o projeto mais significativo da sua vida. Não pela dimensão comercial, mas pelo impacto simbólico: a possibilidade de mostrar uma Angola contemporânea, sofisticada e fiel às suas raízes.

O restaurante não pretende ser exclusivo, mas sim representar o valor real de uma oferta que nasce da terra e da criatividade local. É a prova de que é possível construir experiências de excelência sem perder a autenticidade.

Com o Kissanje, Silva devolve à Maianga uma casa com alma e oferece a Luanda um espaço onde tradição e modernidade se encontram à mesa. É um convite para redescobrir Angola pelos seus sabores e para pensar a gastronomia como parte da construção cultural e económica do país.

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