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A voz que conquistou Angola com o semba acaba de lançar-se num novo registo musical. Neste 23 de maio, Klaudio Hoshai, disponibiliza "Mea Culpa", single que sai do seu registo habitual e leva-o às origens, revelando uma faceta do artista que poucos conhecem.
"Estou na minha área de conforto", confessa Klaudio Hoshai sobre esta transição do semba para a kizomba. O que para muitos pode parecer um abandono das raízes tradicionais angolanas, para o artista é um retorno à sua essência musical. "Antes de fazer o semba, comecei a ouvir músicas americanas, muito blues, muito jazz. Quando comecei a tocar os primeiros acordes na guitarra, queria fazer soul music. Foi ali onde nasci", revela o cantor.
"Mea Culpa" não é apenas uma mudança de estilo, mas também uma reflexão profunda sobre a importância de reconhecer os erros e ter a humildade de pedir perdão. A letra, carregada de significado, aborda a responsabilidade emocional nas relações humanas. "Muitas das vezes, erramos porque a pessoa que está connosco nos influencia a fazer tal coisa. Acontece nos casais, acontece na relação de pai para filho, acontece na relação de marido para mulher ou de mãe para filho ou amizade", explica Hoshai. "Às vezes fazemos uma coisa por impulso, erramos porque essa pessoa nos dá essa abertura para fazermos coisas erradas, mas nada mais do que reconhecer quando falhamos."
O título da música, "Mea Culpa", reflete precisamente essa assunção de responsabilidade. "Quantos problemas e quantas guerras poderíamos evitar no mundo se cada um de nós soubesse ter a humildade de pedir desculpa", questiona o artista, sublinhando como um simples pedido de desculpas pode transformar relações e evitar conflitos maiores.
O novo single resulta de uma colaboração entre artistas de dois países africanos de língua portuguesa. A produção ficou a cargo de Ivan Almeida, desportista e artista cabo-verdiano, e Hilar, também de Cabo Verde. A autoria da letra e música é do angolano Lionsel D2.
Esta fusão reflete a crescente internacionalização da carreira de Klaudio Hoshai, que tem vindo a conquistar públicos além das fronteiras angolanas. Radicado em Lisboa, o artista está em digressão pela Europa há dois anos consecutivos, com passagens por França, Itália, Polónia, Holanda, Suíça, Espanha e Roménia. Para breve, estão previstas atuações na Alemanha, Bélgica e Irlanda. "Tem sido uma estratégia muito boa", admite o cantor sobre a decisão de se estabelecer em Portugal. "Por isso é que tenho estado em muitos eventos. Porque a opção de tirar um músico de Angola, com passagem, hospedagem e tal... E eu já estou num sítio onde consigo deslocar-me para vários pontos da Europa."
Klaudio Hoshai
A mudança de estilo musical não é algo completamente novo para Klaudio Hoshai. Antes de se destacar no semba em 2017, o artista já explorava outros géneros musicais, influenciado tanto pela música americana quanto pela africana.
"Tive aquele afro jazz ou world music no sangue, só que como o nosso mercado angolano não tem uma adesão muito forte nessa parte da música mais jazz, tive que me moldar para o semba", explica. O semba, considerado por muitos como um dos estilos mais difíceis e complexos da música angolana, acabou por ser a porta de entrada de Hoshai no mercado musical. "É um estilo muito forte e muito complicado de se fazer. Se um jovem entra e resulta, então tem que se manter firme", reconhece. No entanto, o desejo de mostrar outras facetas do seu talento sempre esteve presente. "Queria, eu jovem, mostrar uma outra vertente do Klaudio Hoshai, um outro formato que eu sei fazer, que as pessoas desconhecem."
Curiosamente, antes mesmo de se tornar intérprete, Klaudio já escrevia músicas no estilo que agora abraça como cantor, tendo inclusive a famosa Pérola a interpretar uma das suas composições. O percurso de Klaudio Hoshai na música começou muito antes do reconhecimento público. "O meu percurso foi fazer bares e escrever para outras pessoas", conta. Desde 2007 que compõe músicas, muitas das quais nunca chegaram a ser lançadas. "Tenho músicas que escrevi em 2007 e nunca saíram. Todas essas músicas que o público conhece do Klaudio são músicas de agora. As minhas antigas ainda não mexi em nenhuma", revela, deixando no ar a promessa de que ainda tem "música por muitos anos".
Kláudio Hoshai fotografo por Eddie Pipocas, em maio de 2025, Lisboa ©BANTUMEN
A sua versatilidade como compositor permitiu-lhe escrever para vários artistas angolanos, com algumas dessas músicas a tornarem-se sucessos. "Consegui dar uma meia dúzia de letras aos artistas, e essas músicas resultaram", recorda com orgulho.
Além da Europa, a música de Klaudio Hoshai tem conquistado outros países africanos de língua portuguesa. "Tenho recebido muitas mensagens do público guineense, e fico regozijado por isso, porque achei que a minha música pudesse chegar lá muito tarde, afinal é uma música que já é consumida", partilha com satisfação.
Em 2024, o artista subiu duas vezes aos palcos de Cabo Verde: primeiro no Atlantic Music Expo (AME), na Praia, onde recebeu "calorosas observações por parte da media e dos profissionais da música", e depois em Mindelo, perante 11 mil pessoas, nas festas de São João.
Paralelamente, Klaudio tem estado ativo no YouTube, onde disponibilizou o concerto completo que deu no AME e uma série de cinco novos singles ao vivo, com versões reinventadas de clássicos do cancioneiro angolano, como "Kamacove" de Bonga, "Belina" de Artur Nunes, "Hoola Hoop" de Ruy Mingas e "Desespero" de Robertinho.
Com "Mea Culpa", Klaudio Hoshai prepara-se para abrir um novo capítulo na sua carreira, mostrando que a versatilidade é uma das suas maiores qualidades como artista. Entre o tradicional e o contemporâneo, entre Angola e o mundo, o cantor continua a construir um percurso único na música africana, sem medo de arriscar e explorar novos territórios sonoros.
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