Da missa ao panafricanismo, esta curta da Santano Produções junta fé e identidade cultural

August 25, 2025

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A Santano Produções apresentou recentemente uma curta-metragem que procura cruzar espiritualidade cristã, cultura afro-americana e identidade africana. Segundo o realizador Henrique Sungo, a motivação principal para criar o projeto foi chamar a atenção para o Kwanzaa, os seus princípios e a sua relevância social e cultural, ao mesmo tempo que aborda “o comportamento e atitudes de certos líderes religiosos para com as chamadas ovelhas e a sociedade”.

A curta-metragem tem realização e argumento assinados pela Santano Produções, com a ideia original de Henrique Sungo e a colaboração de Filipe Anjos e Jacira Ventura no desenvolvimento do guião.

O contraste entre o amor cristão e o perigo inesperado é explorado através da personagem principal, Flávia, uma jovem angolana em férias no Reino Unido. Católica apostólica romana, a sua fé determina as ações diante do perigo: sempre que se sente em risco, recorre à oração e à confiança nos santos padroeiros.

Na narrativa, foram incorporados três princípios do Nguzo Saba - Umoja (união), Kuumba (criatividade) e Imani (fé) - para estruturar as mensagens de união, amor e espiritualidade. O encontro da protagonista com o Kwanzaa é apresentado como uma experiência transformadora, que desafia a sua visão do mundo e relembra a importância de viver segundo princípios africanos que, muitas vezes, são esquecidos pela influência da educação ocidental.

O humor surge como elemento essencial para equilibrar o suspense psicológico. “A Flávia é uma comediante nata”, explica Sungo, sublinhando que foi necessário cuidado para evitar exageros e manter uma narrativa coerente com a sua identidade angolana.

Quanto ao equilíbrio tonal, a Santano Produções optou por uma abordagem mais intensa e reflexiva. “A mensagem que deixamos é esta mesma: refletir sobre os perigos sócio-religiosos e a importância do Kwanzaa, do panafricanismo e dos ganhos culturais”, acrescenta Henrique Sungo.

Gravada em Londres, no Centro Comunitário Português, a curta contou com o apoio do projeto Camera Action, que promove atividades audiovisuais para jovens e crianças. A estética visual privilegiou um espaço comunitário em vez de uma igreja típica, e a componente sonora combinou influências britânicas com composições do produtor angolano Yala Beats.

Mais do que entretenimento, o objetivo é provocar reflexão e debate em torno da identidade cultural, da espiritualidade e do legado do Kwanzaa, destacando a sua relevância para mais de 54 países africanos e para as diásporas. Sungo sublinha ainda que a curta integra várias dimensões culturais: além da perspetiva angolana, o filme incorpora também elementos guineenses, através da personagem Pedro, da Guiné-Bissau, e o diálogo com a herança afro-americana, berço da celebração do Kwanzaa nos Estados Unidos.

O público-alvo é amplo, já que o filme pretende atingir desde comunidades africanas e afrodescendentes até espectadores interessados em questões espirituais e culturais. “Há muito que se aprende com a essência do filme, seja sobre religiosidade comportamental, cultura angolana e guineense ou sobre a intervenção dos afro-americanos que fundaram o Kwanzaa”, reforça Sungo.

Henrique Sungo revela ainda que a curta-metragem é apenas o início: “O conceito terá um seguimento numa versão de longa-metragem. Foi uma estratégia pensada com cuidado, até porque as críticas têm sido positivas e muitos consideram que a curta ficou demasiado curta. Estamos já a trabalhar na longa.”

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