Marco Victor acredita que "todos temos um líder cá dentro"

May 5, 2025
Marco Victor entrevista

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Foi um dos nomes mais influentes da lusofonia a subir ao palco da gala PowerList 100 de 2024, promovida pela BANTUMEN. Agora, com o olhar firme no futuro e os pés bem assentes na missão que o move, Marco Victor prepara-se para dar mais um passo na sua caminhada de impacto com um novo grande evento agendado para 24 de maio, em Luanda. A iniciativa é uma consequência direta do sucesso do seu livro O Líder Que Há em Ti, lançado em dezembro, e da forma como o público, em Angola e na diáspora, acolheu a sua proposta de liderança centrada na verdade pessoal.


A obra nasceu a partir de uma primeira palestra com o mesmo título, mas rapidamente ultrapassou o formato original. “O livro veio da palestra, e a palestra veio da escuta. Da necessidade que eu sentia nas pessoas de entenderem como se lidera sem capas, sem máscaras, a partir da própria história”, explica. Com distribuição feita de forma independente, Marco leva os livros consigo para os eventos e vende diretamente ao público. “Nunca tive distribuidora. Sou um bocado arcaico nisso. Mas funciona. As pessoas compram onde me ouvem falar.”


Entre Angola, Brasil e Portugal, a obra já chegou a centenas de mãos. E o interesse tem sido tal que Marco pondera lançar um segundo volume ou mesmo uma nova obra. “Depois deste próximo evento, ainda estou a decidir se avanço para um volume 2 ou para um livro com outro título. Mas sei que ainda há muito a dizer.”

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sons da luusofonia - retirar a 7 de maio

As pessoas sustentam a minha vida

Marco Victor

Marco é direto quando fala do seu percurso. Não romantiza, nem dramatiza. Reconhece os privilégios que teve ao longo da vida, como estudar fora, ter acesso à informação e viver com estabilidade, e assume que, durante muito tempo, esses mesmos privilégios o fizeram duvidar do seu lugar enquanto motivador. “Houve um tempo em que eu não me sentia digno de motivar ninguém. Sentia que tudo o que eu tinha, tinha chegado demasiado fácil.” Mas, depois de uma conversa com Eric Thomas, orador norte-americano, tudo mudou: “Ele disse-me que eu estava a olhar para o problema ao contrário. Que eu falava a linguagem que as empresas queriam ouvir. E que devia usar isso como ponte.”

Foi aí que Marco transformou a sua carreira, redirecionando o foco para o B2B [business to business ou seja uma relação de negócios entre empresas, organizações, equipa]. Atualmente, o mentor realiza cerca de 15 a 16 eventos por mês, dentro e fora de Angola, e defende que a chave do seu trabalho está na entrega. “Eu não estou a fazer favores a ninguém. As pessoas sustentam a minha vida. Quanto mais eu sirvo, mais rendimentos tenho e melhor consigo cuidar da minha família.”

Para muitos, manter a privacidade sendo uma figura pública é um malabarismo difícil de equilibrar. Para Marco, não. Ele consegue conciliar o íntimo e o profissional com uma naturalidade desarmante.“Eu sou o mesmo em palco, em casa, na rua, na igreja. O meu filho sabe disso. A minha mulher sabe disso. Eu sou o Marco.” E o coach está, de certa forma, sempre a atuar. Conta, por exemplo, que usa a linguagem do coaching para ajudar o filho de três anos a enfrentar o medo de cortar o cabelo. Ou que, enquanto marido, tenta aplicar a mesma paciência mesmo que, como admite com humor, “às vezes levo logo um corte.”

Mas essa transparência também já teve custos. Marco Victor recorda um momento mais turbulento no início da sua vida pública, em que a popularidade colidiu com comportamentos que não se alinhavam com a sua vida conjugal. “Eu não era transparente com a minha mulher. E quando toda a gente te conhece na rua, mas em casa há insegurança, isso mina a relação.” Foi preciso fazer um reposicionamento interno para recuperar a confiança e reencontrar o equilíbrio. “Hoje, vivemos isso como uma bênção. As pessoas gostarem de mim, seguirem-me, contratarem-me, é o que me permite dar qualidade de vida aos meus filhos.”

Ainda assim, admite que a exposição nas redes sociais tem um impacto diferente nos filhos. “São adolescentes. Às vezes adoram. Outras vezes dizem-me: ‘Papá, não publiques isso no TikTok’. É um processo. E eu respeito o tempo deles.

Marco Victor entrevista

DR

Saúde mental, um tema não negociável

Desde 2016, Marco tem um diagnóstico de bipolaridade. E fala disso sem tabus. “Já tive momentos de crise, mas hoje em dia não deixo que se descontrolem. A minha rotina inclui terapia, religiosamente. Todas as terças-feiras, às 21h30, falo com a minha terapeuta, a Dudi. Onde quer que eu esteja no mundo.” Esta estrutura terapêutica, diz, é fundamental para gerir os altos e baixos de uma vida pública e emocionalmente intensa.

Organizar eventos, por exemplo, é algo que pode desencadear episódios maníacos, explica-nos. “O ano passado fizemos o Centro de Congressos de Belas (uma das maiores casa de espetáculos e conferências de Luanda), com quase 3 mil pessoas. No dia seguinte, tive de me isolar para voltar a centrar. A adrenalina é tanta, que depois é preciso saber descer da árvore.” Hoje, com mais preparação e uma equipa mais atenta, garante que já sabe lidar melhor com esse ciclo emocional. “Estamos todos em alerta.”

O novo evento, que terá lugar em Lisboa, marca uma mudança estratégica e simbólica na forma como Marco se posiciona enquanto orador e líder de pensamento. “Decidi ter uma postura mais afrocêntrica. Convidei vozes negras de vários países de língua portuguesa. Quero que este evento seja um espelho da nossa capacidade de exportar conhecimento.”

A inspiração veio das temporadas no Brasil, onde foi confrontado com realidades que nunca tinha vivido em Angola. “Sou preto, mas nasci e cresci em África. Nunca fui discriminado por ser negro. Mas no Brasil, vi o que é o racismo estrutural, a exclusão. Isso mudou a minha consciência.” Desde então, tem reforçado o compromisso de mostrar que os africanos também exportam pensamento estratégico, não apenas força de trabalho.

Marco defende que a migração africana precisa de passar por uma reinterpretação: “Estamos habituados a sair porque não temos alternativa. Mas eu sonho com um continente onde saímos porque somos bons no que fazemos. Porque fomos chamados a liderar, a transformar.” Reconhece que é um sonho grande, talvez utópico, mas insiste: “Se o teu sonho não te assusta, não faz sentido. E o meu sonho é esse.”

Marco reconhece que a sua vida foi marcada por estabilidade e acesso, algo que o levou, durante anos, a duvidar da legitimidade para inspirar os outros. “Sentia que era quase ofensivo pedir às pessoas que sonhassem quando a realidade delas era tão dura.” Mas percebeu que podia usar a sua posição precisamente para ajudar a quebrar essas barreiras mentais. “Hoje, acredito que é meu dever ajudar a criar condições para que mais pessoas possam não só sonhar, mas realizar”, diz-nos.

Dirige-se especialmente à geração millennial, da qual faz parte, e aos milhões de jovens africanos que hoje têm acesso à Internet. “Só em Angola, estamos a falar de mais de dois milhões de pessoas ligadas. Se essas pessoas conseguirem filtrar o ruído, parar de julgar o mensageiro e focar-se na mensagem, podem ser multiplicadores de mudança.”

No final da conversa, fica a sensação de que Marco Victor não quer apenas ser ouvido. Quer ser útil, quer transformar. E quer que essa transformação seja coletiva. O seu conceito de liderança parte do princípio de que todos têm algo a dar, desde que aceitem ser quem são, sem disfarces. “O maior segredo para seres diferente é seres igual a ti mesmo.”

Em O Líder Que Há em Ti e nos eventos que promove, não encontramos fórmulas mágicas, nem discursos vazios. Encontramos vulnerabilidade, responsabilidade e uma dose saudável de provocação. Marco não se apresenta como guru, mas como alguém disposto a mostrar o caminho, com base na sua própria caminhada.

Dia 24 de maio, em Luanda, o palco volta a ser dele. Mas, se depender de Marco Victor, o protagonismo será sempre partilhado com os que o inspiram, com os que o desafiam e com todos os que acreditam que liderar é, acima de tudo, um acto de servir.

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