Depois de viralizar, MC Tchabaco recebe apoio oficial do Ministério da Cultura guineense

A música guineense atravessa um momento de viragem, marcado por uma transformação digital que abriu caminhos para artistas locais, permitindo que sons nascidos em Bissau ecoem muito além das fronteiras nacionais. No centro deste fenómeno encontra-se MC Tchabaco, nome artístico de Carolino da Silva, que em apenas quatro anos de carreira conseguiu afirmar-se como uma das vozes mais influentes da nova geração musical do país.

O single “Dama na Fasi Fama” tornou-se um dos maiores sucessos da atualidade (cerca de 204 mil visualizações globais - mais de 168 mil só no TikTok), incendiando as redes sociais e projetando a batucada guineense para novas audiências internacionais. Gravado no estúdio Demba Dji, em Santa Luzia, Bissau, o tema nasceu de uma produção simples mas impregnada de autenticidade, tendo sido o poder das plataformas digitais a amplificar o alcance: partilhas, desafios e memes transformaram a canção num fenómeno popular, tornando-a uma das mais ouvidas e comentadas da Guiné-Bissau.

A trajetória artística de MC Tchabaco começou em 2021, com experiências em géneros como o drill, mas foi ao abraçar a batucada que encontrou a sua verdadeira identidade. Em apenas dois meses a explorar esse registo, somava já milhões de visualizações e partilhas, sinal de que a revitalização de um ritmo tradicional através do digital correspondia a uma procura crescente do público guineense.

Segundo o artista, “Dama na Fasi Fama” é uma crítica bem-humorada às atitudes de algumas jovens. Em crioulo guineense, o título significa “Moça que quer fama”, e o refrão “tchololo tchololo” imita o som de um telemóvel a receber notificações, funcionando como metáfora da busca incessante por atenção na era das redes sociais. Este detalhe criativo acabou por transformar o refrão num hino popular que, ao mesmo tempo que diverte, convida também a refletir sobre a forma como a visibilidade digital molda comportamentos entre a juventude.

O percurso do single mostra como a música feita em contexto local pode alcançar impacto global mesmo sem grandes estúdios ou apoios industriais. Porém, o entusiasmo em torno deste sucesso não deve ocultar as dificuldades enfrentadas pelos músicos guineenses, que continuam a lidar com custos elevados de produção, acesso limitado a uma internet cara e instável e ausência de políticas públicas capazes de estruturar o setor cultural.

Foi precisamente neste enquadramento que surgiu a resposta institucional. Na passada quinta-feira, 4 de setembro, o Ministério da Cultura, Juventude e Desportos, através da Secretaria de Estado da Cultura, anunciou publicamente que respondera de forma positiva ao pedido de apoio feito pelo artista através da página Nô Sta Djuntu. O apoio destina-se à gravação oficial da música e do respetivo videoclipe, integrando-se numa estratégia de valorização do talento nacional. Em comunicado, a Secretaria de Estado da Cultura sublinhou que o músico “representa a força criativa da nossa juventude, que faz da cultura um verdadeiro instrumento de identidade e afirmação. O Governo está comprometido em apoiar a inovação cultural e em promover a música guineense além-fronteiras, reconhecendo o papel central que os artistas desempenham na preservação e divulgação da nossa herança coletiva”.

O caso de MC Tchabaco ilustra, portanto, como a transformação digital está a redefinir a música na Guiné-Bissau. Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube tornaram-se veículos centrais de circulação cultural, mas a sua eficácia continua dependente de condições básicas que ainda não estão plenamente asseguradas no país, desde a conectividade acessível até à formação digital e ao investimento consistente na produção artística.

Neste cruzamento entre tradição e modernidade, a batucada ganha nova força e encontra caminhos para afirmar-se além-fronteiras, mostrando que a herança cultural guineense pode dialogar com a lógica global da era digital. A experiência de MC Tchabaco revela que o talento individual pode abrir portas, mas também evidencia que só um esforço coletivo, que envolva artistas, instituições e sociedade civil, permitirá consolidar esta viragem.