Miguel Cardoso, Diretor Executivo da Black Europeans, avança com queixa após tensão em pleno voo

December 10, 2025
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© Unsplash/justwaclaw

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O diretor executivo da organização Black Europeans, Miguel Cardoso, apresentou uma queixa formal na polícia belga contra o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, e uma comitiva de cerca de duas dezenas de elementos do partido, após um episódio que descreve como marcado por insultos racistas, intimidação e ameaças verbais durante um voo comercial com destino a Bruxelas. Segundo o ativista, o confronto ultrapassou a fronteira do desacordo político e expôs um padrão de comportamentos hostis atribuídos ao grupo parlamentar.

Miguel Cardoso viajava a convite da representação portuguesa do Parlamento Europeu, acompanhado pela jornalista Paula Cardoso, fundadora da rede Afrolink. Segundo relatou nas redes sociais, os elementos do Chega “filmaram apenas o que lhes convinha, apenas a parte que favorece a narrativa que querem construir”, deixando de fora “quase dez minutos anteriores, cheios de insultos, provocações e intimidação”, que “simplesmente desapareceram dos vídeos divulgados”.

Em declarações à Revista Visão, apresenta os detalhes em volta do vídeo, entretanto, tornado viral, e afirma que, durante duas horas e meia, a comitiva adotou um comportamento provocatório, lançando “grunhidos” e expressões como “preto, macaco”, sempre de forma discreta, “como se estivessem a falar entre eles, a ver vídeos”, evitando o olhar da tripulação. Um dos elementos terá mantido os joelhos encostados ao seu banco durante todo o voo, num gesto que descreve como intimidatório.

Nas declarações que publicou online, Miguel Cardoso sublinha que o episódio “vai muito além deste voo” e interroga publicamente: “Até quando vamos fingir que este tipo de comportamento intimidatório é normal? Estamos a falar de representantes da República que, ano após ano, têm estado envolvidos em controvérsias públicas, queixas, denúncias e episódios amplamente noticiados”. Criticou ainda aquilo que entende ser uma normalização de comportamentos agressivos no espaço público, recordando que “não é a primeira vez que surgem comportamentos hostis, agressões verbais, ataques pessoais e linguagem incendiária”.

A tensão agravou-se no momento da aterragem, quando Paula Cardoso terá dito “25 de Abril sempre, racismo nunca mais” e colocado a tocar “Grândola, Vila Morena”. Um elemento da comitiva respondeu: “Estes idiotas são mesmo otários, mas a mama vai acabar”. Miguel Cardoso questionou a frase e, segundo relata, Pedro Pinto interveio com insultos e ameaças diretas, incluindo: “Vai para o caralho. Queres ir lá para fora?”

Nas mesmas publicações, Miguel Cardoso critica a banalização da violência política, questionando: “Quem tem permitido que isto se banalize? Quem lhes deu espaço para acreditar que a violência verbal e a ameaça são aceitáveis? Quem normalizou a ideia de que deputados da nação podem comportar-se como uma gangue, hostilizando cidadãos comuns como se estivessem acima de qualquer regra?”. Interroga igualmente a utilização seletiva das imagens gravadas pelos deputados, perguntando “desde quando é tolerável que usem a câmara apenas quando lhes é útil e a escondam nos momentos em que o seu comportamento real ficaria exposto?”.

O ativista afirma que o episódio o levou a refletir sobre “o perigo da normalização”. “Quando o insulto passa a ser normal, quando a ameaça passa a ser normal, quando a manipulação passa a ser normal, é a democracia que deixa de ser normal”, escreveu. Para Miguel Cardoso, o caso não resulta de atos isolados, mas de “uma cultura de violência e impunidade que ameaça a própria essência da democracia”, partindo de pessoas eleitas “para representar o país que, em vez de proteger e servir, escolhem intimidar, humilhar e propagar ódio em público”.

Depois de o vídeo divulgado nas redes do Chega ter viralizado, Miguel recebeu, segundo relata, uma vaga de mensagens hostis, incluindo ameaças de morte. Para o ativista, as reações ilustram o alcance da retórica de ódio e reforçam as questões que colocou sobre responsabilidade pública: “Que agressão, discurso de ódio, racismo, desinformação e manipulação podem ser normalizados? Que autoridade e respeito podem realmente ser esperados de quem deveria ser exemplo de integridade?”.

A queixa-crime foi apresentada na madrugada seguinte ao voo, com Miguel Cardoso, Paula Cardoso e três testemunhas identificadas pelas autoridades belgas. O ativista relaciona ainda o caso com as queixas apresentadas há três meses contra André Ventura.

No texto final que publicou após formalizar a denúncia, deixou uma declaração contra o ódio e a violência: “Não nos calaremos perante o ódio, a violência e o racismo. Quem pensa que pode humilhar, intimidar e atacar pessoas comuns está a desafiar a democracia, e nós não vamos permitir. Cada tentativa de silenciar, cada gesto de intimidação e cada ataque à dignidade será confrontado com coragem, denúncia e justiça, porque não deixaremos que o ódio triunfe sobre a liberdade”.


Até ao momento não são conhecidos quaisquer comentários ou declarações de Pedro Pinho ou de qualquer outro elemento da comitiva do Chega.

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