Moçambique entra para a história da CAN com apuramento inédito

December 31, 2025
moçambique can 2025
©️ CONFEDERAÇÃO AFRICANA DE FUTEBOL (CAF)

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Moçambique está, pela primeira vez, nos oitavos-de-final da Taça das Nações Africanas. O feito, alcançado na edição de 2025, representa um marco incontornável na história do futebol nacional e rompe com décadas de participações discretas na principal competição continental. A vitória histórica frente ao Gabão, por 3-2, a primeira do país em fases finais da CAN e a inédita superação da fase de grupos colocam os Mambas num novo patamar simbólico. Mas a dimensão do acontecimento não dispensa uma leitura crítica, sob pena de o entusiasmo ocultar as fragilidades estruturais que persistem.

Desde a estreia em 1986, o percurso moçambicano na CAN tem sido marcado por irregularidades, presenças esporádicas e eliminações precoces. Ao longo de quase quatro décadas, a seleção raramente conseguiu competir de igual para igual, acumulando campanhas sem vitórias, produção ofensiva reduzida e dificuldades evidentes face a adversários mais organizados. Estes resultados refletem problemas crónicos do futebol nacional, desde a formação de jogadores até à frágil competitividade do Moçambola, incapaz de sustentar um ecossistema de alto rendimento.

Na CAN 2025, sob a liderança de Chiquinho Conde, o cenário alterou-se, ainda que de forma gradual e longe de uma consolidação definitiva. Moçambique somou os pontos necessários para o apuramento antes mesmo de defrontar os Camarões, beneficiando também do formato competitivo que permite o avanço dos melhores terceiros classificados. Em campo, a seleção apresentou maior organização defensiva, mais rigor táctico e uma gestão emocional mais equilibrada, apesar de continuar a evidenciar erros individuais, dificuldades na saída de bola e limitações na imposição do ritmo de jogo.

Caso Moçambique termine o Grupo F na terceira posição como um dos quatro melhores terceiros classificados, poderá defrontar a Nigéria, o adversário mais provável, ou o Senegal. Já um eventual segundo lugar no grupo colocaria a seleção nacional moçambicana frente à África do Sul.

Em qualquer dos cenários, o grau de exigência aumenta de forma significativa. Uma eventual continuidade na prova colocaria os Mambas diante de potências continentais como Marrocos, Argélia, Costa do Marfim e República Democrática do Congo, seleções com maior profundidade de plantel, estruturas sólidas e um historial consistente em fases decisivas.

Este momento histórico confunde-se, inevitavelmente, com o percurso singular de Chiquinho Conde. Antigo internacional moçambicano, integrou a primeira selecção nacional a disputar uma Taça das Nações Africanas e participou em três edições da competição, sendo o segundo jogador mais internacionalizado da história do país. Em Portugal, construiu uma carreira de referência, contabilizando 310 jogos e 87 golos na Liga.

Atualmente, enquanto seleccionador, está ligado à primeira vitória e ao primeiro apuramento de Moçambique para a fase a eliminar da CAN, tendo participação direta em cinco das seis presenças do país na prova, entre jogador e treinador.

A geração atual apresenta, igualmente, sinais encorajadores. Jogadores como Reinildo Mandava, Geny Catamo, Mexer, Bruno Langa e Diogo Calila acrescentam experiência internacional e elevam o nível competitivo do grupo. Ainda assim, a distância em relação às principais seleções africanas mantém-se evidente e não será encurtada apenas através de feitos pontuais ou resultados isolados.

A CAN 2025 confirma o elevado grau de competitividade do torneio, tendo já visto seleções como Zâmbia, Gabão, Comores e Angola ficarem pelo caminho. No caso angolano, que dependia de combinações de resultados para conseguir apurar-se, infelizmente o empate entre Tanzânia e Tunísia ditou a eliminação dos Palancas Negras, seleção que nesta CAN mostrou grandes fragilidades ofensivas e defensivas semelhantes às que Moçambique enfrentou ao longo de vários anos.

O apuramento dos Mambas simboliza, sem dúvida, uma ruptura com o passado recente e afasta a imagem de selecção figurante no panorama africano. Contudo, não deve ser encarado como um ponto de chegada. Sem investimento estruturado, planeamento sustentado a médio e longo prazo e um reforço efetivo do futebol interno, este feito corre o risco de se transformar num episódio isolado. A CAN 2025 demonstra que a evolução é possível; o verdadeiro desafio será transformar este momento histórico no início de um ciclo consistente e duradouro de crescimento do futebol moçambicano.

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