“Mukwilu”, a estreia literária de Meireles André

Nascido no Uíge, Meireles de Assunção Nsangui André é um jovem escritor angolano que se prepara para o lançamento do seu primeiro livro, intitulado Mukwilu. A obra nasceu de uma narrativa profundamente pessoal, marcada por adversidades, perdas e um percurso de superação.

Criado num contexto de grandes desafios e na ausência precoce dos pais, encontrou na leitura um refúgio e uma forma de amadurecimento. Ainda sem uma carreira consolidada, apresenta-se, no entanto, com uma bagagem interior densa, onde cada dor, silêncio e esperança foram, ao longo do tempo, convertidos em palavras escritas.

Segundo o autor, Mukwilu foi escrito em apenas quatro dias, num processo que descreve como intenso e libertador. Afirmou não ter escrito por vaidade ou plano, mas por sentir que a alma já não conseguia mais calar. O título do livro simboliza, na sua visão, a determinação, a resiliência e o valor de prosseguir apesar das adversidades. Para Meireles André, o nome carrega um sentido emocional e simbólico, representando aquilo que o mantém de pé.

A província do Uíge, terra natal do escritor, surge como um dos elementos marcantes da obra. Acrescenta que a vivência naquela região influenciou de forma natural a escrita, e que o texto está impregnado com a cor, o cheiro, o peso e o espírito da terra. Sublinhou ainda a presença de referências culturais implícitas à tradição bantu, à oralidade, aos silêncios sociais e à espiritualidade do povo angolano. "A paisagem, a cultura e as feridas sociais da região influenciam profundamente minha escrita. Acredito que escrevo com a voz de muitos que não tiveram oportunidade de falar."

Em termos de estilo, descreve a escrita como intimista, poética e profundamente existencial, num registo onde procurou equilibrar a dor com beleza, a miséria com dignidade, e a realidade com transcendência. O estilo, segundo afirma, é cru, sincero e literário, marcado por uma linguagem que pretende dialogar diretamente com o coração do leitor. "Mukwilu tenta dar corpo àquelas dores que são sentidas mas raramente nomeadas. É uma tentativa de eternizar a luta dos invisíveis."

Embora Mukwilu ainda não esteja disponível para comercialização, foi já realizada uma primeira partilha simbólica através da plataforma Kogo, com o objectivo de aproximar a obra dos leitores mais próximos e iniciar um percurso de recepção íntima e coletiva.

Apesar de não anunciar, por agora, um novo projecto editorial, continua a escrever diariamente. Expressou o desejo de que este livro seja apenas o início de um legado, frisando que, mais do que a fama, ambiciona uma carreira literária fiel às origens. "Sonho com uma carreira honesta, profunda, fiel às minhas origens, e que permita dar dignidade à minha própria vida e à da mulher que amo, que me acompanha mesmo na escassez", conclui.