“Ronka Fama” e o retrato sonoro das tensões e esperanças da juventude guineense

October 7, 2025

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Na cena musical da Guiné-Bissau, alguns artistas têm vindo a explorar nas suas composições as vivências e desafios da atualidade.  Victor Cassama, conhecido musicalmente como Chito Kaharam é um desses nomes. Com o lançamento de “Ronka Fama”, o artista mergulha nas complexidades das relações humanas, nas frustrações e nas dinâmicas sociais que marcam a juventude guineense contemporânea.

A inspiração para o tema veio, segundo o próprio, das suas próprias experiências e das histórias que o rodeiam. “Foi inspirada nas minhas relações interpessoais, nas vivências de pessoas próximas, uma mistura de decepções e falsas amizades”, explica. O artista traduz em versos e batidas o desencanto de quem se dá demais e o amadurecimento de quem aprende a não se deixar quebrar.

“Ninguém é melhor que ninguém”, resume Chito Kaharam ao falar da mensagem principal da música. Para o músico, as relações humanas estão marcadas por interesses e trocas, mas o que realmente importa é manter os pés firmes nos sonhos mesmo quando tentam travar o caminho. “Ninguém pode te parar”, afirma, acrescentando que o single pode ser também entendido como um manifesto de autoconfiança e resistência.

O título “é uma variação de Randja Fama, mas os mais novos dizem Ronka Fama”, conta o artista. A expressão descreve aquele que tenta se impor ou se exibir, seja por status, aparência ou poder, um retrato direto das tensões e vaidades que atravessam as relações sociais.

Sonoramente, o single funde o drill britânico com ritmos africanos. “É um afrodrill, inicialmente pensado num beat de UK Drill, mas sentimos que era preciso trazê-lo para a nossa realidade”, explica. O resultado é um som moderno, urbano e identitário, que dialoga com o público jovem da Guiné-Bissau sem perder a autenticidade local.

Gravada no estúdio Cinzento Sound, em Bissau, com participação do Noti Gang, a faixa é fruto de um processo criativo que o artista descreve como “volátil”, mas totalmente conectado à sua essência.

Nas letras de Chito Kaharam, o país está sempre presente, mas isso não invalida a procura de outras referências e o cantor cita, a titulo de exemplo, Paulo Freire como influência metodológica para expressar-se a partir da realidade do ouvinte e melhor dialogar. “É algo que já fazia antes da academia”, diz. “Funciona, porque acredito que consigo conversar facilmente com o público.” Ao falar de influências, Chito não se limita a nomes, mas à própria sociedade. “Sou muito observador”, confessa. “A forma como as relações de troca são construídas influencia diretamente o que escrevo.” Ainda assim, cita referências que moldaram a sua identidade artística, como Justino Delgado, Bernal WP e outros expoentes da música guineense.

Essa abordagem acaba por tornar, ainda que indiretamente, “Ronka Fama” como um espelho social que reflete as contradições da juventude guineense, “que herdou os vícios de outras gerações, apesar de viver em tempos diferentes”.

Hoje, vê-se “no mesmo lugar de sempre aprendendo e lutando para melhorar a cada dia”. O artista prepara agora o concerto de apresentação do álbum, marcado para 25 de outubro de 2025, em Bissau. “Estamos a lutar para que seja um show ao vivo, mas há desafios desde o espaço até o tempo que corre contra nós”, revela. Ainda assim, garante: “Prometemos fazer um espetáculo memorável, com convidados de peso e novas músicas antes do grande dia.”

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