“Sobre Toda Escuridão” regressa aos palcos e estreia-se em livro no Instituto Guimarães Rosa, em Maputo

O Instituto Guimarães Rosa, em Maputo, recebe este mês uma programação que junta teatro e literatura, com a peça Sobre Toda Escuridão e o lançamento do livro homónimo. A estreia está marcada para hoje, 14 de agosto, às 18h, assinalando o regresso de um espetáculo já apresentado anteriormente e que volta aos palcos a pedido do público. Dirigida por Ramadane Matusse e inspirada numa novela inédita escrita em 2021 por Mélio Tinga, a obra mergulha no drama de um homem que, após a morte súbita da mulher, Susana, vítima de uma queda de um prédio em circunstâncias inesperadas, se vê aprisionado numa depressão profunda. Entre o presente e o passado, tenta recompor-se e reconstruir a própria vida, enquanto é perseguido por memórias, alucinações e um pensamento trágico constante. Nesse percurso, surge Filipa, uma mulher que procura ajudá-lo a erguer-se, mas que acaba por revelar que nada é tão simples como parece. Quando tudo parece ganhar sentido, o protagonista toma uma decisão difícil e inesperada.

Para Mélio Tinga, autor do texto, a narrativa nasceu de uma reflexão sobre o peso crescente que a vida impõe às pessoas. “Queria, através de uma voz masculina, mostrar a penumbra que muitos homens carregam dentro de si, por trás de uma aparente muralha indestrutível”, explica, recordando que, anualmente, são registadas cerca de 700 mil mortes por suicídio em todo o mundo. O livro, acrescenta, é marcado por uma dor intensa e pela imagem de um corpo que mergulha numa longa escuridão. Já Ramadane Matusse, responsável pela encenação, vê no projeto um exercício artístico exigente e profundamente humano onde “retratar a depressão é lidar com uma questão existencial que me faz pensar na necessidade de dar real atenção às pessoas à nossa volta. Este trabalho acabou por ser terapêutico tanto para mim como para os atores”. Sobre a colaboração com Tinga, descreve-a como um encontro e uma partilha entre dois jovens criadores movidos por uma mesma fome de arte.

A peça conta com interpretação de Maria Auzenda e Paulo Jamine, participação de Francisca Minine na componente de dança e desenho de som a cargo de Gerson Mbalango. As apresentações decorrem no Instituto Guimarães Rosa, sempre às 18h, nos dias 14, 15, 21 e 22 de agosto.

Ramadane Matusse é ator, gestor e produtor cultural, licenciado em Gestão e Estudos Culturais pelo Instituto Superior de Artes e Cultura, e finalista do curso de Artes Cénicas na Universidade Pedagógica de Maputo. É membro fundador da Companhia de Artes Mintsu e da CriArt-Revista, coordenador de atividades teatrais na Tuna Académica da UP-Maputo, colaborador da Associação Cultural da Universidade Pedagógica de Maputo, e trabalha com o Grupo de Teatro Fragmentados. É também produtor e programador do Festival Internacional de Teatro de Inverno e cofundador da plataforma Oficina do DezCurso Teatral, dedicada ao desenvolvimento do mercado teatral.

Mélio Tinga, cofundador do Catalogus – Portal de Autores Moçambicanos, é licenciado em Educação Visual e atua como designer de comunicação. É editor-chefe da DEZAINE, projeto integrado na Design Talk, plataforma de que é cofundador e diretor executivo. Em 2020, venceu o Prémio Literário INCM/Eugénio Lisboa com o romance Marizza, publicado em 2021 pela Imprensa Nacional. Publicou ainda A Engenharia da Morte, em edições de Moçambique, Brasil e Portugal, e O Voo dos Fantasmas, cuja primeira edição saiu em 2018 e a segunda em 2021. Foi finalista do Prémio 10 de Novembro 2019 com Outro Dia a Nuvem Evapora e venceu o Blog4Dev 2021 do Banco Mundial, bem como o prémio de letras de música SensaSons em 2012. É colaborador permanente da Revista Literatas e autor no projeto lusófono Mapas de Confinamento.