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O continente africano carrega um paradoxo inquietante: uma das regiões do mundo com maior potencial demográfico e económico, mas também a que menos explora o transporte aéreo como alavanca de desenvolvimento. A estagnação das companhias low cost em África não é apenas um problema do setor da aviação - é um custo oculto que afeta mobilidade, integração económica e competitividade regional.
Basta um olhar sobre os números: enquanto na Europa e nos EUA mais de um terço dos passageiros voa em companhias de baixo custo, em África este valor não chega a 16%. Num continente onde a conectividade rodoviária e ferroviária é limitada, o transporte aéreo deveria ser o grande motor da circulação de pessoas, mercadorias e ideias. Não é.
Porquê? Porque África optou, durante décadas, por proteger companhias de bandeira ineficientes, subsidiadas e tecnologicamente atrasadas. A herança pós-colonial de monopólios estatais criou estruturas pesadas, caras e avessas à concorrência. Enquanto Ryanair ou AirAsia transformavam mercados inteiros com bilhetes acessíveis e operação ágil, as transportadoras africanas permaneciam reféns de tarifas elevadas, rotas limitadas e uma gestão política.
O custo desta escolha é brutal. Em Moçambique, viajar de Maputo para Nampula custa o dobro de um voo equivalente em quilometragem na Europa. Em Angola, o monopólio da TAAG e a ausência de concorrência low-cost mantém os preços domésticos elevados, desincentivando o turismo interno e os negócios regionais. No Zimbabué, voar entre cidades vizinhas é um luxo para poucos.
Pior: o atraso dos voos low cost trava a Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA) e o ambicioso projeto de mercado único aéreo (SAATM). Sem transporte aéreo barato, não há integração económica real possível. As barreiras tarifárias físicas convertem-se em obstáculos invisíveis de mobilidade.
E no entanto, África tem tudo para descolar: mercado jovem, urbanização rápida, classe média crescente, novos aeroportos (como o de Luanda) e interesse internacional (exemplo: Ryanair em Marrocos). Mas falta vontade política para desregulamentar o espaço aéreo, reduzir taxas abusivas, atrair investidores e abrir o mercado doméstico à concorrência real.
O resultado? Um continente que voa menos, paga mais e cresce abaixo do seu potencial.
É preciso coragem para romper este ciclo. Deixar de proteger transportadoras estatais obsoletas em nome de um nacionalismo económico ultrapassado. Abrir os céus africanos à concorrência regional, permitir a entrada de players low cost africanos e estrangeiros, cortar impostos sobre o jet fuel e modernizar os processos aeroportuários.
Num mundo onde o tempo é o ativo mais caro, África não pode continuar a pagar o preço de voar devagar e caro.
A revolução low cost africana não é um luxo, é uma necessidade económica urgente.
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