Xichangana: Uma ponte entre gerações e tradições

Num mundo em que a globalização avança a passos largos, é fácil perder-se o fio que nos liga às nossas raízes. Foi precisamente para contrariar essa tendência que nasceu o Xichangana, uma plataforma digital que promove a educação e valorização das culturas e línguas moçambicanas, através de conteúdos simples, envolventes e profundamente relevantes.

A ideia surgiu de uma inquietação pessoal de Pedro Loforte, fundador do Xichangana. “Em várias conversas com estrangeiros, eu era questionado sobre a cultura moçambicana – línguas, tribos, cerimónias, rituais, danças, estilos musicais… e percebi que não sabia bem responder”, partilha. “Tinha algumas noções, sim, mas faltava-me o conhecimento. E percebi que muitos jovens com quem cresci em Maputo estavam na mesma situação.”

Crescer na capital do país oferece muitas oportunidades, mas nem sempre garante uma ligação profunda com as tradições locais. Pedro conta que, embora tivesse alguma exposição à cultura moçambicana, não teve uma verdadeira imersão. E foi aí que se acendeu a faísca: “Decidi criar um meio educativo sobre a cultura moçambicana, com uma linguagem moderna, pensada para atrair o público jovem. Começámos em 2018, com foco no sul do país, daí o nome ‘Xichangana’.”

Desde então, o projeto expandiu-se para abarcar o mosaico diverso que é Moçambique. Hoje, o Xichangana é um verdadeiro ponto de encontro entre culturas, promovendo o conhecimento e a valorização da herança multicultural do país. A missão da plataforma é clara: contribuir para a educação cultural dos jovens, não só sobre a sua cultura-mãe, mas também sobre as culturas vizinhas, criando pontes de empatia e respeito mútuo.

“Nós acreditamos que, para melhorar a qualidade das relações entre os jovens moçambicanos, é essencial que cada um conheça e valorize a sua identidade. Num país tão diverso como o nosso, isso só é possível promovendo o diálogo entre culturas”, explica Pedro.

Recentemente, a plataforma deu mais um passo importante ao lançar o curso “Changana do Zero”, uma iniciativa pensada para quem quer aprender a língua tradicional do sul de Moçambique, mesmo sem qualquer base. “O mais curioso é que eu próprio não falo fluentemente Changana”, admite Pedro com franqueza. “Nasci e cresci em Moçambique, mas nunca fui exposto à língua de forma sistemática. E essa é precisamente a realidade de muitos outros.”

Segundo dados recolhidos pela equipa do Xichangana, mais de 80% dos estudantes do curso são moçambicanos nascidos em Maputo,