Duas figuras centrais da cultura urbana afrodescendente em Portugal, Piny e Xullaji, cruzam pela primeira vez os seus caminhos artísticos num espetáculo inédito que junta dança, música e pensamento político. A estreia está marcada para o dia 24 de maio, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

A colaboração surge no âmbito do Zona Franca, ciclo interdisciplinar que promove o encontro entre músicos e coreógrafos, fruto de uma parceria entre o Centro Cultural Vila Flor (A Oficina), o Theatro Circo e o gnration (Faz Cultura). Depois da estreia do ciclo, em fevereiro, com Vera Mantero e Susana Santos Silva, chega agora a vez de Piny e Xullaji darem corpo a um novo cruzamento entre as artes.

Coreógrafa e performer, Piny iniciou-se nas danças tradicionais do Egipto, mas foi nas danças urbanas que encontrou o seu terreno de experimentação. Fundou os coletivos Butterfly Soul Flow e Orchidaceae, cruzando estilos como o hip hop, waacking, house e danças tradicionais do sudoeste asiático e norte de África. Com Mother Nala Revlon, cofundou ainda a Vogue PT, iniciativa dedicada à cultura Ballroom, com foco nas comunidades afrodescendentes e LGBTQIA+.

Do lado da música e da palavra, Xullaji — também conhecido como Chullage — é reconhecido pelo seu percurso ligado ao hip hop de intervenção. Autor da trilogia Rapresálias, Rapensar e Rapressão, tem explorado as linguagens do spoken word e da música eletrónica com o alter ego prétu, projeto onde junta samples africanos, pensamento pan-africanista e estética afrofuturista. O álbum prétu 1 – Xei di Kor foi destacado pelo jornal Público como um dos melhores de 2024.

Para além da sua carreira musical, Xullaji integra ainda o coletivo Peles Negras Máscaras Negras – Teatro do Escurecimento e tem colaborado com companhias como o Teatro Griot, Formiga Atómica, Aurora Negra e a Companhia de Teatro de Almada.

Este novo espetáculo nasce de uma residência artística em Guimarães e marca um momento de convergência entre duas linguagens — a do corpo e a da palavra — que se encontram para explorar temas como identidade, pertença e resistência, numa proposta que se insere na reflexão crítica sobre o lugar das culturas negras no panorama artístico nacional.