Lisboa
Portugal
27 de Maio de 2025
Torcer, amarrar e pender
Exposição de Sonia Gomes
Kunsthalle Lissabon
Torcer, amarrar e pender

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Até o dia 16 de gosto de 2025, a garelia Kunsthalle Lissabon acolhe a primeira exposição individual em Portugal, Torcer, amarrar e pender. Sonia é uma das vozes mais relevantes da arte contemporânea brasileira. Através de uma prática baseada em têxteis, Gomes resgata materiais negligenciados, transformando-os em recipientes de memória, resistência e cuidado.


O título da exposição, Torcer, amarrar e pender, condensa os gestos que atravessam a obra de Gomes, tanto em termos materiais quanto simbólicos. São ações que remetem ao modo como a artista transforma tecidos em esculturas orgânicas, mas também ao entrelaçamento de histórias, afetos e redes de apoio que sustentam o seu trabalho. Em algumas obras, cordas torcidas sustentam volumes suspensos que desafiam a gravidade, enquanto tecidos amarrados em tensão criam formas que oscilam entre abrigo e exposição. Esses gestos, alimentados por doações de roupas e outros têxteis por pessoas de diferentes origens, tornam-se parte de uma narrativa maior, tecida coletivamente.


Gomes constrói as suas peças lentamente, permitindo que surjam de um diálogo tátil entre o material e a memória. A artista não segue um plano fixo, deixando-se antes conduzir pela ressonância emocional das texturas, cores e fragmentos. Cada pedaço de tecido, seja um pedaço de renda, uma camisa usada ou um forro descartado, carrega consigo uma história. Usados, oferecidos, esquecidos ou guardados, esses fragmentos chegam ao seu ateliê carregados da energia de vidas passadas. Gomes responde por meio do toque, os seus gestos são simultaneamente intuitivos e deliberados, transformando a costura numa linguagem que honra o trabalho, a sobrevivência e as redes invisíveis que nos sustentam.


Torcer, amarrar e pender reúne uma seleção de trabalhos recentes da artista, oferecendo uma oportunidade única de entrar em contato com a abordagem expansiva de Gomes à forma e à narrativa e abrindo uma janela para o seu processo de trabalho, no qual o objeto final é inseparável dos gestos, experiências e comunidades que o compõem. 

As obras apresentadas desdobram-se como corpos em movimento, equilibradas, mas precárias; suaves, mas resilientes. Elas ecoam os ritmos da sua terra natal, Caetanópolis, uma pequena cidade têxtil em Minas Gerais, no sudeste do Brasil. Para Gomes, o tecido não é apenas um meio, mas uma forma de ver e de se relacionar com o mundo. A sua prática está enraizada na criação de comunidade e no reconhecimento do trabalho coletivo envolvido em cada peça.


Esse compromisso manifesta-se de forma evidente nas obras desenvolvidas em colaboração com o coletivo Ocupa e Borda, grupo formado por bordadeiras e bordadeiros da Ocupação 9 de Julho, que propõem autorias compartilhadas e modos de fazer feministas. A Ocupação 9 de Julho é uma iniciativa do Movimento Sem Teto do Centro, liderado por mulheres e composto por trabalhadoras e trabalhadores de baixa renda que ocupam prédios abandonados no centro de São Paulo, lutando pelo direito constitucional à moradia e por uma transformação social que democratize o acesso à cidade.


As obras colaborativas criadas com o coletivo partem de bordados produzidos por seus integrantes e evocam rios subterrâneos como o Saracura, que corre oculto sob a avenida Paulista. São o resultado de um encontro sensível entre memória, corpo e criação, corporificado em esculturas e bordados que transitam entre o íntimo e o coletivo, entre a ancestralidade e a invenção.

Para sugerir eventos, envia-nos um email para redacao@bantumen.com

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