A Fundação BAI, em Angola, anunciou a inauguração da exposição individual Grafias Performadas, da artista plástica Wyssolela Moreira, com início a 22 de Maio de 2025, no Anim’art - Centro de Animação Artística do Cazenga.

A mostra integra o projecto Arte nas Comunidades, que visa promover o acesso à arte contemporânea em diferentes bairros de Luanda. Assim, a referida exposição, pretende celebrar o retorno à essência, onde a arte se afirma como ferramenta de libertação, escuta e transformação. 

Falamos com a artista angolana, que nos adiantou, que é “muito mais do que uma exposição visual”, definindo o trabalho como “uma travessia espiritual” onde tecidos, argilas e símbolos, despertam memórias profundas e saberes antigos, ativando o poder de autocura e equilíbrio vital.

Este Grafias Performadas de Wyssolela, convida o público que o for visitar, “a atravessar um portal de cura e (re)conexão ancestral, numa jornada íntima e espiritual para mergulhar nas águas profundas da memória coletiva e individual, despertando saberes antigos que habitam no nosso corpo, na nossa terra e no nosso espírito.” 

Segundo a artista, as “grafias” são tecidos azulados, que “escondem” oceanos codificados que ondulam silenciosamente com vibrações sutis. 

“Cada dobra, cada camada de cor, ecoa os Ilundu. Nestes tecidos, há mapas sensoriais que nos conduzem por caminhos esquecidos marcados por argilas terrosas e calcárias que são manipuladas por gestos ritualísticos, transformam-se em linguagem viva, orgânica , revelando fragmentos de histórias enterradas no inconsciente. Surgem códigos espirituais que nascem da simbiose entre o EU e a TERRA - um retorno ao útero da criação. Este processo é tanto intuitivo quanto sagrado, e dá origem a símbolos que ativam o poder de autocura presente em cada ser. No centro deste percurso, chamas ardem— guia e testemunha da travessia energética. Ela representa o elo entre mundos, o fogo da transformação, conduzindo-nos rumo ao estado de Kinenga, conceito Bâkongo que descreve o equilíbrio vital necessário à saúde física, espiritual e emocional. A doença, compreendida como um desequilíbrio energético, é aqui enfrentada com escuta profunda, reverência e entrega. Durante esta travessia, somos conduzidos pelos ancestrais que emergem das obras, suas presenças sutis nos orientam a reconquista de nós mesmos, lembrando-nos de que a verdadeira cura nasce da escuta interior e da (re-)conexão com os que vieram antes de nós. Em cada instalação, performance e grafia, pulsa uma dança sagrada - celebração viva da sabedoria ancestral que ainda nos habita”

Wyssolela Moreira, que é artista multidisciplinar e diretora de arte, nasceu em Angola, Luanda, e atualmente reside e trabalha entre Canadá e Angola. 

Sua prática artística e experimental utiliza colagem de mídia mista, escrita, fotografia, instalação, videoarte e performance para explorar as complexidades de um Eu influenciado pela normatividade neocolonial. Ela trabalha na intersecção entre arte e espiritualidade e centra-se na desconstrução da herança colonial relativa ao corpo, identidade, espaço, crença e saúde. Ela também usa seu trabalho para criar espaço para experiências marginalizadas, desafiar narrativas existentes sobre africanismo/negritude e destacar as realidades sociais da desigualdade de gênero e direitos humanos.

Wyssolela recebeu o Prêmio Viola Desmond em 2016 e teve a oportunidade de expor seu trabalho internacionalmente em exposições coletivas, festivais de vídeo e cinema, residências artísticas e eventos culturais.