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Ondjaki: A literatura lusófona está “numa certa periferia linguística”

Ndalu de Almeida é Ondjaki, nascido em Luanda, Angola, é poeta e escritor. No seu currículo contam prémios como Prémio Literário José Saramago e Prémio São Paulo de Literatura. Ondjaki é também um dos escritores angolanos mais conhecidos em Portugal.

Numa altura em que se fala muita sobre a lusófonia e as suas qualidades, o escritor deu o seu parecer quanto à literatura lusófona e prestou algumas declarações à Lusa. A literatura lusófona está “numa certa periferia linguística” a nível internacional, apesar de o português ser uma das línguas mais faladas do mundo, considera Ondjaki.

O inglês e o francês têm uma dimensão muito maior que o português, as traduções que são feitas do português não são suficientes para saírem desse universo e nem tão pouco comparáveis, para Ondjaki, “nós, os do mundo da língua portuguesa, lemo-nos “apesar de todas as dificuldades linguísticas.

Ndalu de Almeida visitou a Feira do Livro de Guadalajara, que decorreu no México, entre 24 de novembro e 02 de dezembro, e que tinha Portugal como convidado de honra. E apesar do pouco conhecimento que os autores atuais têm fora “do mundo da língua portuguesa”, Ondjaki afirma que é inegável a qualidade que existe e que deve continuar a existir.

Na visão do escritor, “temos de continuar a batalha” explorando as traduções para mercados que têm mais força, como o inglês, francês ou alemão, e “continuar a gerir a nossa literatura com qualidade”, para que a literatura lusófona seja fortalecida a nível internacional.

Em Guadalajara, o ficcionista, poeta e autor de livros infantis, inseridos no Programa Nacional de Leitura, participou numa mesa de debate com Pilar del Rio e Gonçalo M. Tavares, sobre o escritor José Saramago, que dá o nome ao prémio que ganhou em 2013 pelo romance “Os Transparentes”.

Para além da mesa de debates, Ondjaki fez parte de uma performance artística com o artista plástico António Jorge Gonçalves e o pianista Filipe Raposo, dando continuidade a uma vasta lista de apresentações ao vivo que o autor tem realizado em várias partes do mundo.

Não é só a escrita que move Ndalu, a exploração contínua da sua veia artistíca tem se feito notar e não hesita em participar em atividades de improvisação em frente ao público, sendo estas “oportunidades de estar com outros artistas” e de rever amigos, diz o escritor.

Além de leituras ao público, o autor participa em projeções de textos escritos ao vivo, com improvisação musical ou improvisação imagética (pintura) por outros artistas — uma “oportunidade de experimentar outras sensações, para depois voltar à escrita”, resume.

Com uma vasta obra editada em vários países, Ondjaki diz que “a performance é uma reescrita, uma oportunidade para escrever de outra maneira”, mas também “tem um grau de risco, porque não tem tempo para editar, não tem tempo para rever”.

“Um momento que vive e morre aqui”, assegura o autor.

Sobre os temas literários com que se costuma relacionar, Ondjaki diz que “qualquer tipo de literatura, incluindo aquela que às vezes pensamos ser para crianças, deve abordar qualquer tipo de temática social, (…), mas, sobretudo, se isso se acasalar com o objetivo literário do escritor”.

Ondjaki defende também que todos os leitores devem ser habituados à reflexão sobre os grandes problemas da atualidade, de forma “urgente”. Homossexualidade, desigualdade, exclusão social ou ecologia são alguns dos temas que o autor e sociólogo defende que devem ser introduzidos na educação das crianças, em tenra idade, para que sejam discutidos e debatidos.

“Para que a criança não tenha de lidar com o racismo quando esse racismo já está profundamente incorporado na pessoa”, exemplifica Ondjaki.

“Quando se trata do meu universo infantil”, diz o escritor, “tento descobrir que parte do labirinto da infância se pode tornar labirinto da literatura. Porque a literatura também é um labirinto. E a nossa vida também. E os nossos sonhos também”.

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