As redes sociais servem para falar de tudo e um pouco. Entre assuntos menos sérios, desafios perigosos e futilidades vão aparecendo movimentos inspiradores, cujo propósito é consciencializar. É com este último objetivo que falamos sobre a hashtag #SobrinhaTasGrande, que tem aumentado de popularidade no Twitter, nos últimos dias.
não tenham medo de contar a vossa história. 💛#SobrinhaTásGrande pic.twitter.com/2XnlXjaxIP
— Gênia Estagiária. (@_asof_) 10 de novembro de 2018
O movimento surgiu através de utilizadores angolanos que pretendem denunciar o assédio e abuso sexual sofrido por crianças, adolescentes e mulheres por membros da família, amigos ou desconhecidos. As denúncias fizeram-se chegar sem grandes demoras, através de quem sofreu na pele situações constrangedoras ou mesmo agressões sexuais e que, por medo ou vergonha, nunca chegaram a ser verbalizadas.
O abuso acontece, em grande parte, quando a pré-adolescente começa a desenvolver os seus atributos físicos. Começa com um elogio dúbio, uma mão “trapalhona”, uma carícia constrangedora, um abuso disfarçado de amor. Por vezes, ganha-se coragem e denuncia-se o abusador à pessoa mais chegada, que muitas vezes é a própria mãe. Contudo, em vez de proteção recebe-se descrédito ou faz-se “vista grossa” à situação, com medo de criar um caos no seio familiar.
No Twitter, a hashtag foi criada por um grupo de utilizadoras feministas, no dia 10 de novembro, e desde então vítimas têm publicado os seus testemunhos. Entre os vários tweets, há também homens incrédulos com o comportamento dos seus pares e que encorajam a atitude das mulheres que denunciam e pedem maior educação sexual, dentro e fora de casa, para que crianças, jovens e adultos possam identificar os sinais de alarme e travar ou prevenir um possível abuso sexual.
Há também quem ainda acredite, erradamente, que a roupa é a arma certa para impedir um abusador de levar as suas intenções avante e que cabe à mulher instruir as meninas sobre o potencial perigo a que incorrem quando usam uma peça de roupa mais curta. Contudo, a este tipo de mensagens, depressa chega a resposta de que o correcto é educar-se todo o indivíduo a respeitar o outro e que um adulto jamais poderá ter uma aproximação sexualmente inadequada sob uma criança.
As mães, quando suas filhas começam a entrar na idade em que já despertam o olhar sexual dos homens, devem instruir as filhas na forma de vestir. Devem não só recomenda-las a vestir decentemente mas dizer-lhes o PORQUÊ!! Para evitar situações destes gêneros.
— Zeury do Carmo (@DoZeury) 12 de novembro de 2018
Que nojo de pensamento. Em circunstância nenhuma isto é aceitável. Ensinar na tenra idade que nós mulheres não temos liberdade corporal?? Independentemente do formato do meu corpo ou da minha idade, eu não pretendo ser sexualizada. Nunca pretendi!! #sobrinhatasgrande https://t.co/06KlHHZFNG
— Luz (@luziakathyja) 12 de novembro de 2018
Apesar de o tema ter surgido entre angolanos, este é transversal a toda a sociedade onde seres humanos coabitam. É necessário derrubar o tabu para se falar abertamente de sexualidade e prevenir situações que podem causar traumas profundos e irreversíveis.
Foi também com esse intuito que surgiu o polémico movimento #metoo, nos Estados Unidos, e que denunciou abusos sexuais, muitos ocorridos há vários anos, de magnatas da indústria cinematográfica. Quando dizemos “polémico” é em consideração ao descrédito dado às vítimas, que hoje são na sua maioria mulheres conhecidas do grande público, que só após vários anos decorridos e a fama alcançada decidiram revelar as situações a que foram submetidas por homens, na maioria das vezes, mais velhos e com poder económico e social.
Polémicas à parte, este tipo de movimentos são precisos porque o pecado não mora ao lado. O pecado mora na nossa casa e não vemos, ou não queremos ver. É necessário instigar a conversa. Instigar a denúncia. Instigar a educação sexual. Instigar o empoderamento feminino (porque enquanto uma mulher se sentir inferior a um homem, haverá todo um grupo de mulheres que terá medo de dizer “não” e de denunciar). É necessário ensinar que a vítima não é culpada. É urgente educar o homem, o jovem adolescente, o menino. #EducaOteuHomem. A educação é a maior arma para combater este mal. O nosso corpo, o corpo de qualquer pessoa, tem de ser respeitado.
Já fui assediada de várias formas enquanto me conheço como gente. Há várias situações, várias maneiras de abordar, desde o modo mais bruto ao elogio que parece inofensivo. No passado já me calei, hoje não me calo mais. #SobrinhaTásGrande , TU NÃO ÉS A CULPADA👭💓👏🏽👏🏽
— • Huvandra • (@HuvandraPereira) 12 de novembro de 2018
O mais triste é que em todas histórias de estupro por parte de familiares, a primeira pessoa a quem as vítimas contam, é a mãe ou outra mulher muito próxima, que preferem fingir que não aconteceu ou culpar a VÍTIMA #SobrinhaTásGrande
— #MiriamPatrícia (@miiriam_alves) 12 de novembro de 2018
#SobrinhaTásGrande
Uma história mais nojenta que a outra.
Uma história mais forte que a outra.
Sinto muito por quem já sofreu tal situação.
Denunciem, queixem aos pais e aos irmãos. DENUNCIEM.
Eles podem dizer que sim, mas A CULPA NÃO É TUA!✊🏾— Yolanda Zua 🐯💋 (@Yolanda_Zua) 12 de novembro de 2018
não tenham medo de contar a vossa história. 💛#SobrinhaTásGrande pic.twitter.com/2XnlXjaxIP
— Gênia Estagiária. (@_asof_) 10 de novembro de 2018
Como homens (pais, irmãos, tios…) devemos criar condições para que as mulheres à nossa volta e no geral se sintam seguras, confiem em nós e saibam estabelecer uma ponte de comunicação conosco quando um “parente” estiver a ser inconveniente. #SobrinhaTasGrande#100DiasPraMudar
— Curate Angola (@Curate_Angola) 12 de novembro de 2018
História de pessoas próximas:
O tio tentou aliciar a sobrinha, mulher de corpo feito (sobrinha da esposa), pegar na perna e acariciar o corpo dela, reagiu pq se apercebeu do q o tio queria. Contou à tia e ela ficou e defendeu o marido. A sobrinha saiu de casa #SobrinhaTásGrande— • RégisBaby🧜🏼♀️ (@jessicareginajr) 13 de novembro de 2018