Bancos de Cabo Verde que só trabalham com clientes não residentes fecham este ano

February 3, 2020
Bancos de Cabo Verde que só trabalham com clientes não residentes fecham este ano

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Os bancos cabo-verdianos que trabalham apenas com clientes não residentes, como o BIC ou o Montepio Geral, e que não pediram a transformação para licença genérica, vão ser encerrados até ao final do ano, segundo o Governo.

“Demos um prazo até finais de 2020. Quem não obtiver a licença será encerrado”, começou por explicar, em declarações à Lusa, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, garantindo tratar-se de um processo iniciado em 2018 e que não está relacionado com o processo ‘Luanda Leaks’, investigação jornalística que levantou dúvidas sobre o BIC Cabo Verde, detido pela empresária angolana Isabel dos Santos.

Referindo que a decisão foi tomada “muito antes” do processo ‘Luanda Leaks’, Olavo Correia afastou qualquer relação com a investigação jornalística conhecida este mês.

Acrescentou que essa decisão, de terminar com as licenças restritas — que permitiam aos respetivos bancos trabalhar apenas com clientes não residentes e com depósitos em moeda estrangeira — foi assumida “em função do futuro” desejado para o sistema financeiro cabo-verdiano. 

“Desde 2016 que pensamos na solução. Não podemos ‘correr’ com as instituições . Até prova em contrário, são pessoas do bem. Por isso, temos de dar um prazo para adaptação. Mas a decisão é irreversível”, assumiu o ministro das Finanças.

O BIC Cabo Verde encontra-se licenciado ao abrigo do Regime das Instituições Financeiras Internacionais, “tendo por objeto principal a realização de operações financeiras internacionais com não residentes neste Estado, em moeda estrangeira”, lê-se na informação da própria instituição. 

O Banco de Cabo Verde (BCV) anunciou em janeiro que vai retirar “as devidas consequências” da inspeção em curso desde finais de 2018 ao banco BIC Cabo Verde. A posição consta de um comunicado do banco central cabo-verdiano na sequência da informação veiculada no âmbito da investigação do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), processo conhecido como ‘Luanda Leaks’, que aponta o BIC-CV como utilizado pela empresária em contratos com origem na China de proveniência duvidosa. 

Na prática, o Governo abriu em 2018 a possibilidade aos bancos com autorização restrita – que contavam com benefícios fiscais e que são associados a contas ‘offshore’ – de pedirem junto do BCV a conversão em licença genérica, passando a trabalhar com clientes residentes. 

“Era para ter acontecido até finais de 2019, mas o processo de autorização é exigente e complexo e por isso decidimos dar mais um prazo adicional até dezembro 2020”, explicou Olavo Correia, garantindo: “Em janeiro de 2021, só licença genérica”.

Atualmente, funcionam em Cabo Verde quatro bancos com autorização restrita, casos do Montepio Geral, BIC, Banco de Fomento Internacional (BFI) e Banco Privado Internacional (BPI).

De acordo com informação anterior prestada à Lusa pelo BCV, dois dos quatro bancos que operam em Cabo Verde com autorização restrita (Instituições de Crédito de Autorização Restrita — ICAR) solicitaram o alargamento da licença para utilização genérica (Instituições de Crédito de Autorização Genérica – ICAG).

O banco central não esclareceu quais os bancos que pediram o alargamento de licença, sendo que, conforme a garantia do Governo, os que não forem convertidos em ICAG serão encerrados até final do ano.

O banco BIC Cabo Verde, participado pela empresária angolana Isabel dos Santos e que está a ser inspecionado pelo banco central cabo-verdiano, apresentou lucros de mais de cinco milhões de euros em 2018, tendo apenas 12 trabalhadores.

No relatório e contas de 2018 do banco, consultado pela Lusa, é referido que o lucro do BIC Cabo Verde caiu 59,4% em 2018, face ao ano anterior, para 5,2 milhões de euros.

A Lusa noticiou anteriormente que a administração daquele banco não descarta um pedido de autorização genérica, para poder passar a realizar operações com clientes residentes. 

O Governo cabo-verdiano anterior autorizou em 2013 a instalação do BIC, enquanto instituição financeira internacional, apenas para clientes não residentes, alegando que os promotores eram então “pessoas de mérito”.

A autorização para a criação daquele banco, detido por Isabel dos Santos, consta da portaria 37/2013, de julho de 2013 e consultada pela Lusa, assinada pela então ministra das Finanças e do Planeamento cabo-verdiana, Cristina Duarte, resultando da aquisição pelo banco angolano BIC SA do então Banco Português de Negócios em Cabo Verde.

O objetivo era manter o banco como Instituição Financeira Internacional (IFI), podendo apenas trabalhar com clientes não residentes, na modalidade de entidade autónoma, mas a própria portaria acabou por autorizar a sua criação a título excecional, invocando o interesse público, admitindo que entre os sócios de referência não constava — como a legislação determinava – uma instituição financeira com sede num país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Ainda assim, a autorização foi concedida pelo então Ministério das Finanças — último Governo do PAICV, atualmente na oposição -, após consulta do Banco de Cabo Verde, considerando que essa instalação correspondia “aos interesses de desenvolvimento económico do país” e que, “apesar de não existir um sócio de referência, os promotores são pessoas de mérito”.

Atualmente, Isabel dos Santos detém, indiretamente, através da Santoro Financial Holdings, SGPS, SA e da Finisantoro Holding Limited, 42,5% do capital social do Banco BIC Cabo Verde, embora “não exercendo qualquer função nos órgãos sociais da instituição”, segundo o BCV.

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