Academia BANTUMEN #5: Da integração à esperança, SEA-A e o seu impacto na Universidade do Minho

September 15, 2025
secçao estudantes africanos universidade minho
Membros da Secção de Estudantes Africanos da Universidade do Minho | DR

Partilhar

Na Universidade do Minho nasceu, em 2024, uma nova voz para os estudantes africanos: a Secção de Estudantes Africanos da Associação Académica. O núcleo é recente, mas já começou a transformar o quotidiano de muitos colegas, oferecendo um espaço de escuta, integração e esperança.

No centro desta história está Luege D’Olim, estudante de Administração Pública e atual vice-presidente da secção, sendo uma das poucas mulheres a ocupar este cargo de destaque, algo que vê não como peso, mas como oportunidade. “Aqui não é muito pelo género, é pela causa. Somos todos movidos pelo mesmo objetivo”, explica. Ainda assim, faz questão de sublinhar o valor de ter uma voz feminina na presidência: “Às vezes acrescento detalhes que os colegas não lembrariam. É próprio nosso.”

A secção surgiu em fevereiro de 2023, depois de um debate no Black History Month, onde estudantes africanos partilharam as suas dificuldades de integração e de participação na vida académica. A conversa não ficou pela sala, pois naquele mesmo dia foi criado um grupo no WhatsApp que viria a dar forma ao núcleo. No grupo, os estudantes trocaram ideias sobre como seria a tão sonhada associação: o logotipo, plano de ação, nome e o estatuto. Um ano de preparação mais tarde, a 22 de março de 2024, nascia oficialmente a Secção de Estudantes Africanos da Associação da Universidade do Minho.

As primeiras conquistas não tardaram. Logo em abril de 2024, na sua primeira atividade, uma Roda de Conversa sobre integração académica, reuniu estudantes de vários países africanos e criou um espaço seguro para partilhar experiências e pensar soluções conjuntas. “Uma coisa é falar no WhatsApp, outra é ver os colegas participarem, darem opiniões, sentirem que fazemos a diferença”, recorda Luege.

PUBLICIDADE

Universal - Soraia Ramos

“Percebi que não existem lugares que não nos pertencem. Se queremos mudança, temos de estar presentes e mostrar a nossa perspetiva”

Luege D'Olim

Desde então, a secção já organizou eventos como o Matabichar, publicado na página oficial da universidade, com o objetivo de proporcionar um momento de convívio e intereção com os alunos e que contou com a participação do pró-reitor. Luege ressaltou que foi um momento marcante, pois os problemas dos estudantes africanos foram ouvidos: “Nós tiramos os problemas da nossa sala e os levamos à universidade. A nossa causa vai tornar-se uma causa coletiva”, explicou.

O núcleo também ajuda os estudantes através do apoio direto a colegas recém-chegados e cita a título de exemplo o apoio prestado a um estudante do Gana, que conseguiu ajudar alojamento, com auxílio da provedoria do estudante, num curto espaço de tempo.

O impacto da secção foi medido através do feedback que a comunidade estudantil deu na segunda edição da roda de conversa “Os estudantes vieram ter connosco e disseram: vocês estão a fazer alguma coisa, estão a fazer a diferença”, contou Luege. Por estarem inseridos na Associação Académica da universidade, a secção recebe apoio e todos os anos é disponibilizada uma verba destinada às atividades, mas a gestão e logística é por conta dos órgãos que a constituem. 

As dificuldades existem e conciliar vida académica, trabalho e associativismo é um desafio constante: “Sermos trabalhadores-estudantes por vezes nos impossibilita de nos reunirmos e prepararmos atividades para eles”, declarou. A questão financeira também pesa, já que nem todos os eventos podem ser pagos pelos estudantes e o orçamento é reduzido. Ainda neste tópico Luege admite que de certa forma este estatuto acaba por influenciar a adesão dos estudantes nos eventos até da própria universidade, mas que a SEA tenta encontrar um dia onde são debatidos os mesmos temas e já pensa em novas soluções: “Temos tentado contatar empresas que ensinem os estudantes africanos a gerir o tempo, a encontrarem empregos mais flexíveis ou associações que nos ajudem a minimizar isso”, contou.

Ainda assim, a motivação supera os obstáculos. “O nosso legado é de esperança, coragem e continuidade. Ubuntu: Nós existimos porque os outros existem”, declarou a Vice-presidente, acrescentando que “não importa os lugares onde estiverem, a SEA estará sempre pronta a ajudar. O que queremos é que os estudantes tenham responsabilidade e coragem, pois são capazes”.

Luege partilhou ainda a sua própria experiência de integração: chegou a Braga para o 12.º ano e, ao entrar na universidade, foi escolhida como delegada de turma. “Percebi que não existem lugares que não nos pertencem. Se queremos mudança, temos de estar presentes e mostrar a nossa perspetiva.”

Neste ano letivo que se avizinha (25/26), a secção prepara um pré-acolhimento online, que acontecerá no dia 25 de Setembro às 16h00. Esta iniciativa é feita em parceria com a SouUminho, um projeto estratégico da Universidade do Minho, financiado no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem como objetivo principal contribuir para a diminuição do insucesso e abandono escolar no ensino superior.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.

bantumen.com desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile